Imre Oravecz, nascido a 15 de fevereiro de 1943 em Szajla, é um escritor, romancista e poeta húngaro.
Fragmento do romance de Imre Oravecz sobre a história da família Árvai, camponeses húngaros no final do século XIX.
János vivia sob o mesmo teto que a esposa, batizada de Teréz Közsüs, e do seu pai viúvo, János Árvai. Dos quatro irmãos Árvai, era o mais novo. De qualquer modo, era ainda um homem jovem. Era também recém-casado, pois só há meio ano é que tinha levado a noiva ao altar, e só recentemente tinha completado vinte anos. Teve irmãos que morreram de cólera na década de 1830. Dos sete, apenas dois sobreviveram à epidemia: um macho e uma fêmea mais velhos que ele. A sua irmã Regina casou-se com Elek Trso, da aldeia de Trso. O seu irmão Márton casou com uma filha dos Vas, e quando o velho sistema de propriedade ruiu, não construiu casa aqui, mas no outro extremo da aldeia, em Felvég,
Este foi o segundo casamento de János. Já se casara uma vez, mas nem sequer tiveram tempo de se habituar um ao outro, pois a sua mulher morreu de tuberculose. Decidiu voltar a casar. Não se sabe se ele não aguentou enquanto homem ou se entrou em pânico pela prole ter chegado atrasada, mas o facto é que à segunda vez estava com tanta pressa que nem esperou pelo fim do ano de luto, levando a solteira Teréz ao altar. Tanto quanto se sabe, quebrou dois costumes ao mesmo tempo: um viúvo só podia casar com uma viúva.
O jovem viúvo não era um mau partido, muito embora se algo é óbvio não deixa dúvida, e não se sabe ao certo porque Teréz conhecia ou usava esta expressão. Não era considerado nem rico nem pobre. Talvez o que mais lhe convinha era estar moderadamente bem. Ele tinha terra suficiente para se sustentar a si próprio e à sua família. Graças ao casamento, subiu ainda mais alto, porque Teréz não veio de mãos vazias, mas com um dote generoso.
Encontrava-se medianamente bem, graças a seu pai, o velho János, que tinha casado duas vezes e que lhe tinha deixado a herança durante a sua vida.
O velho, vinte anos atrás, trabalhou como servo numa propriedade dos Károlyi, que tinha pertencido aos Orczy, para onde se mudaram os antepassados dos Árvai. Mais tarde, precisamente no ano em que János nasceu, conseguiu emancipar-se e tornar-se proprietário das suas terras, dos trinta acres de terras aráveis e de pastagem em que até então só tinha trabalhado. No entanto, a emancipação só teve lugar no papel, e não isenta de problemas. O Estado, que era responsável pela indemnização dos proprietários, que ficaram com um nariz de palmo e meio, não tinha muita pressa em fazer o pagamento, pelo que os proprietários de terras tentaram sabotar o processo. Houve muitos “tira e põe” e muitas quezílias. Além disso, o próprio János contribuiu involuntariamente para o atraso porque se escondeu nas montanhas. Só muito mais tarde saiu da floresta onde se tinha refugiado, porque tinha medo de ser preso e levado, por ter lutado com os rebeldes durante a Guerra da Independência. E não foi pelo facto de ser procurado pelos austríacos, mas sim por nem sequer saberem que ele existia neste mundo. Tinha mais medo dos seus compatriotas húngaros, que por inveja, malícia, vingança ou desejo de se tornarem bons sujeitos não se cansavam, após a derrota de denunciar e entregar alguém, uma vez que nessa altura havia muitos réprobos e pessoas, que só olhavam para os seus interesses pessoais. Assim, mais uma vez, o húngaro tornou-se o maior inimigo do húngaro. Quando finalmente, com grandes dificuldades e atropelos, a promessa foi cumprida e János tornou-se proprietário das suas terras, acabando por se revelar um bom agricultor. Não só conseguiu manter a terra, como também a fez crescer, ganhando assim respeito e prestígio para si próprio e para a sua comunidade.
Tradução de Éva Cserháti e Antonio Manuel Fuentes
Fonte: Cortesia da Fundação Húngara do Livro (Magyar Könyv Alapítvány) e da Revista Digital Lho.es
Versão Portuguesa: Arnaldo Rivotti
Crédito da Imagem:
Aurél Bernáth (Húngaro, 1895–1982)